
Sal e Zar
A história de duas prostitutas que governaram o Cais do Sodré durante décadas.
Sal era Moçambicana, à primeira vista uma moça sensata e bem parecida, com qualidades de artista e com muita cultura. Era muçulmana mas adere à ideologia cristã em Lisboa no dia que lava os dentes pela primeira vez com a mítica e milagrosa “pasta medicinal Couto”.
Zar, uma guineense com descendência alemã era funcionária publica. Farta do sindicalismo selvagem africano decide comprar uma mota e partir para o mundo europeu, o mítico ocidente que a sua descendência alemã tanto a inquietava conhecer.
As suas vidas cruzam-se ainda em África, quando se conhecem numa mítica casa de Marraquexe, em Marrocos, onde ambas se deliciavam com um belo prato de caracóis. A crise marroquina obrigou que as duas estrangeiras partilhassem o mesmo alfinete. Nessa bela tarde de sol começou aquilo que seria a maior parceria prostituída da historia da Europa.
Sal e Zar, orgulhosamente sós, entraram em Portugal pela fronteira do baixo Alentejo.
Daí levam na memória o choque dos usuais abusos sexuais nas planícies perpetrados pelos pastores aos rebanhos.
Assentam malas e bagagem em Lisboa. Zar vende a moto e com o pouco dinheiro consegue ser o sustento das duas. Mas as capacidades das jovens cedo se evidenciam pelas ruas da baixa pombalina.
Sal e Zar, chocadas com a pacatez do povo português decidem ser pioneiras rameiras.
O mote “«Vós pensais nos vossos filhos, nós pensamos nos filhos de todos vós».
O Cais do Sodré nunca mais voltaria a ser o mesmo. Impõem um regime de exclusividade, «Tudo pela Cais, nada contra o Sodré». Em menos de um mês, estas ilustres e pobres desconhecidas africanas passam para a ribalta e dominam completamente a prostituição e o ambiente, não só intelectual mas também estético da zona. Introduzem em Portugal a esquina com cheiro a urina e a ideia de menina de esquina.
Pensa-se que Sal e Zar tenham tido relações sexuais com mais de 14600 pessoas o que dá uma média de uma relação por dia durante 40 anos.
Sal e Zar morrem num numero lúdico de cabaret. O mítico jogo das cadeiras. No momento em que somente estavam 5 cadeiras, Sal e Zar sentam-se na mesma e o destino quis que esta dupla acaba-se não só o jogo mas também a sua vida. A queda da cadeira foi violenta. Sal e Zar somavam na altura 189 quilos.
O seu legado é ainda uma realidade. O Cais do Sodré vive e para sempre vai viver sobre a égide de SAL e Zar.