sexta-feira, março 30, 2007


No metro olhava para o homem do karaté.. Ia sentado com umas sandálias de cortiça. As fivelas eram de pano, russas do uso, dos pontapés e do cão, companheiro que não o acompanhava.
O homem era bem constituído, tinha quase quarenta anos se não os tinha já ou mais. O desporto dá uma nova cara ao envelhecimento.
Na solidão da musica que me acompanhava, virei o olhar mais a sul. Uma mulher idosa, com os seus sessenta folheava uma revista de lingerie. Mulheres novas, bonitas, o oposto. Ela gostava. Parava em cada folha. Penso que pensava no passado, no seu corpo firme que agora é somente o seu corpo. Nada mais. A sua beleza é agora vitima de outro processo de apreciação.
Olhei em frente. O meu reflexo na porta. Eu ali sozinho comigo afinal.
Em casa a minha filha. O meu reflexo, carne e osso. Reflexo vivo de um pouco de mim, tudo de mim e de outros.

São muitos os motivos, as inquietações de viver.
Amor ao filho é a racionalidade no seu expoente máximo.

segunda-feira, março 26, 2007


Sal e Zar
A história de duas prostitutas que governaram o Cais do Sodré durante décadas.

Sal era Moçambicana, à primeira vista uma moça sensata e bem parecida, com qualidades de artista e com muita cultura. Era muçulmana mas adere à ideologia cristã em Lisboa no dia que lava os dentes pela primeira vez com a mítica e milagrosa “pasta medicinal Couto”.
Zar, uma guineense com descendência alemã era funcionária publica. Farta do sindicalismo selvagem africano decide comprar uma mota e partir para o mundo europeu, o mítico ocidente que a sua descendência alemã tanto a inquietava conhecer.
As suas vidas cruzam-se ainda em África, quando se conhecem numa mítica casa de Marraquexe, em Marrocos, onde ambas se deliciavam com um belo prato de caracóis. A crise marroquina obrigou que as duas estrangeiras partilhassem o mesmo alfinete. Nessa bela tarde de sol começou aquilo que seria a maior parceria prostituída da historia da Europa.
Sal e Zar, orgulhosamente sós, entraram em Portugal pela fronteira do baixo Alentejo.
Daí levam na memória o choque dos usuais abusos sexuais nas planícies perpetrados pelos pastores aos rebanhos.
Assentam malas e bagagem em Lisboa. Zar vende a moto e com o pouco dinheiro consegue ser o sustento das duas. Mas as capacidades das jovens cedo se evidenciam pelas ruas da baixa pombalina.
Sal e Zar, chocadas com a pacatez do povo português decidem ser pioneiras rameiras.
O mote “«Vós pensais nos vossos filhos, nós pensamos nos filhos de todos vós».
O Cais do Sodré nunca mais voltaria a ser o mesmo. Impõem um regime de exclusividade, «Tudo pela Cais, nada contra o Sodré». Em menos de um mês, estas ilustres e pobres desconhecidas africanas passam para a ribalta e dominam completamente a prostituição e o ambiente, não só intelectual mas também estético da zona. Introduzem em Portugal a esquina com cheiro a urina e a ideia de menina de esquina.
Pensa-se que Sal e Zar tenham tido relações sexuais com mais de 14600 pessoas o que dá uma média de uma relação por dia durante 40 anos.
Sal e Zar morrem num numero lúdico de cabaret. O mítico jogo das cadeiras. No momento em que somente estavam 5 cadeiras, Sal e Zar sentam-se na mesma e o destino quis que esta dupla acaba-se não só o jogo mas também a sua vida. A queda da cadeira foi violenta. Sal e Zar somavam na altura 189 quilos.
O seu legado é ainda uma realidade. O Cais do Sodré vive e para sempre vai viver sobre a égide de SAL e Zar.

terça-feira, março 20, 2007

enfrentar os funcionarios publicos

o meu video na segurança social.

um exemplo... a seguir

quarta-feira, março 14, 2007

terça-feira, março 13, 2007

João filho de Carlos irmão de Jacinto parente próximo de Francisco. Reproduziam-se continuamente. Abel irmão de Cláudio filho de Manuel cunhado de Ricardo padrinho de Luís. Pedro com dois filhos, Salvador e Martim era o mais novo da família.
Todos os anos a família crescia . Telmo irmão de Bruno filhos de Miguel. Todos viviam felizes.
João era bom trabalhador, Carlos dono de uma empresa empregava Jacinto e Francisco.
Todos tinham ocupação. Demasiado tempo ocupados para pensar na vida.
Os dias passavam iguais, a família aumentava quase de dia para dia. Eram a mais conhecida e admirada família da aldeia.


Até um dia.

Quando Abel, que nem Judas se pôs a pensar.
Pensou, pensou. Juntou, desdobrou. Questionou-se a ele mesmo e decidiu juntar a família. Era necessário mais opiniões. Mais.
Quando João, Carlos e Jacinto chegaram já Francisco bebia com Abel e Cláudio. Manuel e Ricardo ouviam atentamente Luís sobre um assunto de trabalho enquanto Salvador e Martim jogavam computador, ouviam musica com uns auscultadores que os isolava do resto da sala. Telmo e Bruno olhavam para o relógio e perguntavam como era possível prolongar-se sempre os princípios das coisas.

Abel apresenta a sua inquietação.

Todos nós temos uma coisa em comum. Todos somos Homens homem. Não há Homens mulheres. Como nos reproduzimos nós? Como?
Perplexos olharam entre eles e descobrindo o erro da sua existência vão desaparecendo um a um na medida que a consciência os aviva.
Eram um erro pois claro.
Salvador e Martim de auscultadores resistem.
A inocência salvaguardou-se.
O isolamento foi a barricada
Perplexos tornam-se violentos e decidem criar outra família. Foi só pensar. Criar.
Até ao dia, que outro se ponha a pensar...

Eclipsou-se o pecado.